📖✍️ Por José Ricardo de Souza*
A questão da fé é um dos temas mais empolgantes do período medieval, haja visto a importância do poder do clero católico na organização das relações sociais que se desenvolveram nessa época.
O contexto de insegurança, provocada pelas guerras contra os bárbaros e disputas entre os nobres, incitava o medo generalizado no povo, que sem formação intelectual (em sua maioria, analfabetos) para analisar os acontecimentos, atribuía-os a Deus, como um sinal do final dos tempos. Além das guerras, fenômenos naturais (enchentes, vulcões, terremotos), pestes e fome eram interpretados como um castigo divino.
É claro que a Igreja Católica soube aproveitar-se disso para fortificar suas posições na ordem reinante, e pôs-se como a única e verdadeira mediadora entre Deus e os homens. Em seus ensinamentos, pregava o sofrimento, a abnegação, a caridade, a pobreza e o conformismo como caminhos para atingir-se o Reino de Deus.
Contraditoriamente, pouco a pouco a Igreja Católica aumentou o seu poder, não só do ponto de vista espiritual, como também temporal. Sob sua hegemonia, sagravam-se reis e cobravam-se impostos (dízimo). O patrimônio da Igreja Católica crescia, a ponto de dominar um terço das terras cultiváveis da Europa.
Aliada aos poderosos, a Igreja, através de sua ideologia conformista, canalizava as tensões sociais, impedindo que servos e vilões explodissem sua revolta contra a dominação dos senhores feudais. Aceitar passivamente a vida miserável era um dos pré-requisitos para os pobres chegarem aos céus.
É claro que nem todos concordavam com as armações do clero e contestavam abertamente a Igreja. Taxados como hereges, esses grupos foram perseguidos pelo Tribunal do Santo Ofício (Inquisição). Além de combater as heresias, a Inquisição servia como braço político de algumas monarquias católicas, a exemplo da Espanha e Portugal. Após interrogatório, que incluía a tortura, muitos eram condenados à morte na fogueira, e queimados vivos nos chamados autos-de-fé, como por exemplo, Giordano Bruno e Joana D'Arc.
A Inquisição não perseguia apenas os hereges, entre suas vítimas também figuram judeus, ciganos, homossexuais, prostitutas e todos aqueles que não se enquadrassem nos moldes católicos.
O Homem Medieval não tinha apenas uma religião, mas era profundamente religioso. Além dos ensinamentos da Igreja, acreditava também nas superstições, na magia, e no misticismo de uma maneira geral, herança dos cultos pagãos dos romanos e dos povos bárbaros.
📝 O autor é historiador, professor da rede pública estadual, membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista, criador do projeto Muita História pra Contar. ⏳❤️⌛