Olá estudantes, professores, pesquisadores e amantes da ciência histórica. Neste blog vocês encontrarão vasto material de minha autoria sobre assuntos relacionados a esta ciência, além de vários links úteis para seu aprendizado. Bem vindos à nossa estranha confraria, que zela para que os feitos dos homens não se perdam nas névoas do tempo. Que a musa Clio nos guie nessa jornada pelo passado. #muitahistoriapracontar
sábado, 4 de junho de 2011
APAIXONAR-SE - Viver uma grande paixão é o maior desfio humano
por José Ricardo de Souza*
Apaixonar-se, estar enamorado(a) por alguém especial, admitir que o sentimento amoroso tomou conta de nosso coração. Um estranho sentimento esse, é o amor, o único capaz de elevar a alma humana aos céus ou conduzi-la ao caminho da desilusão e do infortúnio. Nem todos conseguem vivenciá-lo com sabedoria e serenidade. É preciso prudência, e muito cuidado, o que raramente acontece quando nos deixamos levar por uma grande paixão, daquelas que transformam nossa vida num vai e vêm de sonhos, fantasias, esperanças, quando não de ilusões perdidas. É difícil discernir, onde está a razão, o bom senso, e às vezes até o limite. Tudo parece ser um mar de flores, mesmo que nosso barco esteja na mais perigosa das tempestades. É a parte mais bonita do processo que leva ao ato de apaixonar-se, mas também seu lado mais arriscado. Perder a racionalidade, renunciar ao equilíbrio, abrir mão da liberdade, ir anulando-se em função de outra pessoa, são os riscos de quem trilha esse caminho apaixonado.
Entretanto, nem toda paixão pode ser encarada como uma irresponsabilidade ou como uma fuga da razão. Apaixonados(as) podem ser conscientes, a ponto de buscarem no outro a felicidade, sem contudo, descuidar de sua vida, de seu destino, de seus objetivos. Apaixonar-se pode também significar abandonar a si mesmo, renunciar ao egoísmo, partir do "nós" para construir um novo caminho, partilhado a cada momento, vivenciado em cada alegria, em cada sorriso, em cada lágrima que derrama sentimento, seja ele de dor ou de emoção. Tomados por uma grande paixão, podemos fazer coisas que antes pareceriam impossíveis, improváveis ou inatingíveis. O que faz a diferença, então, senão a força que o sentimento em sua essência possuí, capaz de arrastar atitudes, sedimentar projetos de vida, colaborar para alcançar a vitória, mesmo que seja a duras penas.
A paixão é uma das essências que sustentam a vida, dando-lhe um sentido, um direcionamento, um ponto de partida para quem deseja transformar ou deixar-se transformar, em função do afeto, do carinho, e da ternura. Viver desprovido de uma paixão, quer seja ela por uma pessoa, por uma atividade, por uma divindade, ou por um ideal, pode ser a pior coisa que um ser humano pode enfrentar, pois passará a contar os dias e noites como uma sucessão melancólica de tempo. Nada mais triste do que perder a esperança depositada numa paixão. É dor que dói na alma, cujas cicatrizes, nem mesmo o passar dos tempos poderá apagá-las. Ainda assim, mesmo sabendo que podemos sofrer, cair num abismo, teimamos em manter a chama da paixão viva, pois é ela quem ilumina o nosso caminho de seres apaixonados, por suas histórias nem sempre tão apaixonantes, como deveriam sê-las.
Se a dor fosse o preço a pagar pela aventura de apaixonar-se por alguém, diria que muitos não hesitariam em pagá-lo, ainda que fosse por alguns míseros instantes, únicos capazes de transformarem-se em séculos de felicidade, quando sentimos a presença de quem amamos de verdade. Todavia, nem só de dores alimenta-se uma paixão, ela também é feita de poesia, saudade, encantamento, doação, partilha, tudo isso num único mistério: o de apaixonar-se, mantendo o sonho de um sentimento ideal, sem perder a noção de quem sabe porque ama, quem ama, e como deve ama-lo(la). Apaixonadamente somos chamados ao encontro do outro, é um pedido inerente da natureza humana, sempre carente de gestos concretos de afeto, que se traduzam em palavras e ações, capazes de expressar o quanto somos gratos a alguém, a Deus, e à vida, quando descobrimos o quanto é bonito, amar e ser amado, sem perder a esperança, a consciência e a beleza da vida.
* O autor é historiador, professor, escritor; membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista.
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