Olá estudantes, professores, pesquisadores e amantes da ciência histórica. Neste blog vocês encontrarão vasto material de minha autoria sobre assuntos relacionados a esta ciência, além de vários links úteis para seu aprendizado. Bem vindos à nossa estranha confraria, que zela para que os feitos dos homens não se perdam nas névoas do tempo. Que a musa Clio nos guie nessa jornada pelo passado. #muitahistoriapracontar
sábado, 4 de junho de 2011
MORAL SEXUAL OU ÉTICA SEXUAL ?
por José Ricardo de Souza*
A palavra moral e seus derivados, como moralista, moralismo, moralizar, etc., sempre despertam uma certa antipatia naqueles que defendem o liberalismo, como um dos baluartes da sociedade moderna. O comportamento sexual, por exemplo, nunca ficou tão liberalizado, como na nossa época, a ponto de se tornar algo banal, e em muitos casos, vulgar. Os mais liberais admitem que a sexualidade deve ser vivenciada da forma mais livre, aberta, e desregrada possível, pois, segundo eles, o sexo é algo natural, próprio dos seres humanos, destinado a proporcionar o prazer no sentido carnal, e que portanto, não se sujeita à regras impostas pela sociedade. Ainda mais, sabendo-se que no tema sexo e sexualidade, as regras são ditadas pelas denominações religiosas, baseando-se nas suas respectivas doutrinas, ficando ainda mais difícil o diálogo entre ambos, liberais e conservadores.
As conseqüências do liberalismo sexual, desencadeado a partir dos anos 60-70, após a invenção da pílula anticoncepcional, estão por toda a parte, e vão desde a propaganda, que usa e abusa do corpo, como uma mercadoria de consumo, passando pelas músicas, novelas, revistas, livros, danças, modas, roupas, que estimulam a erotização, impondo-a como um padrão social de comportamento, aceito, tolerado, e incentivado, inconscientemente ou não, pela maioria das pessoas. A esse liberalismo, podemos colocar como acréscimos, toda uma problemática que envolve o uso da sexualidade sem responsabilidade, dando origem a situações, como iniciação sexual precoce (muitas vezes de forma imatura), gravidez indesejada, crescimento da prostituição, principalmente da infantil, e disseminação de doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS. Além, é claro, da desvalorização do ser humano, que envolvida em qualquer dos casos acima, acaba sendo execrado pela própria sociedade sexualizante e sexualizada, ficando sujeito à discriminações, estereótipos, marginalizações, etc.
A questão do sexo não se resume a definir regras e padrões de comportamento ou se deve haver uma maior flexibilização da prática sexual, como querem os liberais moderninhos, mas deve ser refletida tomando como critério às conseqüências, individuais e sociais, que decorrem do mau uso da sexualidade. Não adianta se reforçar o uso de preservativos (camisinhas) como um consenso capaz de solucionar todos os problemas da era pós-AIDS, assim como a pílula não resolveu a questão do afeto das gerações anteriores, pois a sexualidade não se restringe à genitalidade, ou seja, ao ato sexual em si, como um fim em si mesmo. O ser humano, embora, seja um animal, instintivamente dotado de impulsos, dentre os quais o da reprodução e conservação da espécie, possui uma capacidade de analisar suas próprias ações, e refletir sobre elas, usando a racionalidade. Portanto, o sexo, na espécie humana, é muito mais do que a prática de copular, possui um enquadramento social, visto que, nossas atitudes refletem na forma como nos relacionamos no grupo em que estamos inseridos.
Na nossa sociedade, o liberalismo sexual, tornou-se via de regra, um modelo imposto, principalmente pelos meios de comunicação, interessados em motivar o consumo de produtos ligados, direta ou indiretamente, à sexualidade, ou melhor, a uma banalização dela. Os discursos contrários, conservadores, ficaram enclausurados nas Igrejas e em algumas comunidades rurais, sem espaços para exporem seus princípios. Enquanto isso, movimentos e tendências liberalizantes da sexualidade tomaram conta do contexto social, dificultando ainda mais a escolha por outros caminhos possíveis para se vivenciar a sexualidade, tomando como requisitos o respeito, por si mesmo e pelo(a) companheiro(a), o bom senso, a disciplina dos desejos, e principalmente, a afetividade como alicerce do relacionamento, sobre a qual são construídas todas as atitudes dos enamorados.
É preciso, necessário, e urgente, construirmos uma ética sobre a sexualidade, para preencher a lacuna tomada pela ideologia erótica dominante. Somente assim, poderemos estabelecer princípios capazes de tornar as pessoas mais responsáveis quanto à sua sexualidade, conscientizando-as para fazerem dela, um meio de realização pessoal, sem traumas, culpas, ou frustrações. Não se trata de impor regras de conduta sexual, como imaginam alguns, mas de apresentar propostas, outras alternativas, sem que sejam as propagadas pela mídia. Seria um processo de aprendizado, onde pais, filhos, educadores, religiosos, psicólogos e outros segmentos poderiam contribuir para desenvolverem idéias sobre sexo e sexualidade, de forma madura e principalmente responsável, postas para serem assimiladas por aqueles que se sentem enganados pelos falsos conceitos que priorizam o erotismo em detrimento da afetividade, único meio capaz de elevar o sexo como um dom a serviço da felicidade humana.
* O autor é historiador, professor, escritor; membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista.
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