Olá estudantes, professores, pesquisadores e amantes da ciência histórica. Neste blog vocês encontrarão vasto material de minha autoria sobre assuntos relacionados a esta ciência, além de vários links úteis para seu aprendizado. Bem vindos à nossa estranha confraria, que zela para que os feitos dos homens não se perdam nas névoas do tempo. Que a musa Clio nos guie nessa jornada pelo passado. #muitahistoriapracontar
sexta-feira, 3 de junho de 2011
PONTOS ESCUSOS DE UM AFETO TEIMOSO
por José Ricardo de Souza*
Numa sociedade que prima pelo sexo sem amor, onde respeito virou peça de museu, e a fidelidade característica exclusiva de aparelho de som (alta fidelidade) poucas pessoas conseguem viver um ideal afetivo sem recorrer aos apelos da carne, digo, do desejo possessivo de fazer das pessoas mercadorias, que podem ser usadas, e abusadas, para conseguir um prazer momentâneo. Sob a tônica do discurso sexualizado, ou melhor sexualizante, da mídia eletrônica, muitos jovens descuidam dos valores morais, substituindo-os por preceitos de pouco ou nenhum valor ético, uma vez que prioriza-se o prazer como um fim em si mesmo, endeusando-se a sexualidade em detrimento da afetividade. Ninguém consegue mais segurar a onda avassaladora do liberalismo sem limites, que esmaga todo e qualquer compromisso consigo ou com o próximo. Vivendo uma carência de referenciais que possam dar sentido às relações afetivas, elas acabam por cair num vazio vicioso, que gera sucessivas crises nos casais, deixando-os às margens da incompatibilidade e da intolerância, o que serve para anunciar o princípio do fim de uma relação. A paixão de cama não pode, por si só, sustentar um relacionamento a dois, porque priva o casal de um envolvimento mais subjetivo com o outro, privando-o de uma relação de maior dialogo e sensibilidade.
Desprovido de objetivos, a relação que visa apenas o envolvimento carnal é um engodo imposto pelos grupos do liberalismo sexual, não por coincidência, os mesmos que defendem a prática do aborto, as experiências sexuais antes do matrimônio (traduzindo, seria o fim da virgindade) e a banalização do sexo sem escrúpulos. A estes, interessam manter a juventude alheia aos princípios da moral e da ética para incutir neles o apego às distorções e desvios da sexualidade. Trata-se de um movimento que pretende instaurar a desagregação dos sentimentos humanos numa campanha infame contra a família e a sociedade, destruindo as bases de uma organização social calcada no equilíbrio e na seriedade. Dentro desse modelo deturpado, não existem espaços para o respeito, a compreensão, a tolerância, a fidelidade e o compromisso, peças indispensáveis para quem deseja edificar um relacionamento a dois. Quem não consegue resgatar esses princípios e estabelecê-los dentro do seu relacionamento estará fadado a investir numa relação totalmente vazia e entediante, forte candidata a engrossar as listas de divorciados e desquitados do país.
Seria melhor admitir que sem amor, qualquer relacionamento amoroso cairá num reducente fracasso. Daí a necessidade de reafirmarmos os valores autênticos do afeto sereno e sereno, capazes de dar ao homem um sentido para a sua ínfima existência. De nada adiantará insistirem em reduzir o sentimento amoroso a uma quimera romântica de adolescentes imaturos, pois o amor já tem a sua essência definida nos corações apaixonados de quem assume o compromisso de ser e fazer a felicidade do seu(sua) amado(a). A verdadeira ventura de um sentimento afetivo é buscar a cada instante a realização do amado (a), mesmo que tenhamos que renunciar a algumas posturas, esquecer os desafetos, e aplainar as incompreensões e diferenças. A fortaleza do amor serve, nesse sentido, para sedimentar as relações que souberam se apropriar do sentindo profundo do amor que ama e que se deixa amar, perde, mas não se deixa perder, sofre, mas não se deixa sofrer. Quem entende e vivencia essa beleza intrínseca do verbo amar pode transcender o aspecto meramente carnal para experimentar uma dimensão mais profunda da afetividade.
Esquecer a primazia do amor é condenar nossos relacionamentos à insensibilidade para com os sentimentos. Infelizmente, vemos que os costumes mudaram muito desde a invenção da pílula anticoncepcional e a revolução sexual dos anos 60. Defender como valores a virgindade, o sexo dentro do casamento, o amor como fundamento único e principal de uma relação parecem discursos ultrapassados diante do liberalismo estabelecido, coisa de religiosos ou de conservadores ortodoxos; mas quem disse que a liberação sexual trouxe apenas vantagens para a humanidade ? Lembrem-se do aumento da gravidez precoce, portanto indesejada, na maioria dos casos; dos sucessivos abortos praticados em "fábricas de anjos", do crescimento dos casos de doenças sexualmente transmissíveis, principalmente da AIDS. Isso sem esquecer que o mercado e a indústria do sexo, que condenam milhares de seres humanos a condições indignas de subsistência, giram em torno do imperialismo da pornofilia cultuado pelos meios de comunicação com o apoio velado dos governantes, que nada fazem para zelar pela decência da moral e da ética. O amor, nesse contexto, torna-se assim, um modelo de teimosia, de quem insiste em acreditar no poder do sentimento, sem se deixar levar pelo sensacionalismo do erotismo vulgarizado das novelas e "tchans" da TV. A sociedade paga, e ainda, pagará um alto preço pelo altíssimo grau de depravação a que está exposta. As gerações futuras cobrarão uma postura de bom-senso para resolver o problema, quanto a nossa, esta está presa e omissa às imposições do desejo e da sedução carnais.
* O autor é historiador, professor, escritor; membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista.
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