sábado, 25 de outubro de 2025

🔯⚫ OS 50 ANOS DA MORTE DE VLADIMIR HERZOG 😢🖤

por José Ricardo de Souza*

O assassinato de Vladimir Herzog (Vlado), que hoje, dia 25 de outubro de 2025 completa seus 50 anos, foi um dos casos mais emblemáticos da História da Ditadura Militar brasileira. Sua morte abriu feridas profundas dentro das patentes mais altas da caserna, deixando bem evidente o racha entre quem defendia a distensão do regime militar iniciado em 1964 e quem não queria largar o poder, a chamada Linha Dura (Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva já admitiam a passagem do poder para os civis, mas de forma lenta e gradual).

A família de Vlado era originária do antigo Reino da Iugoslávia, seguidores do Judaísmo, por isso fugiram para o Brasil para escapar da perseguição aos judeus estimuladas e executadas pelos nazistas na Europa dos anos 1930.

Herzog naturalizou-se brasileiro e construiu uma premiada carreira no jornalismo brasileiro, além de cineasta. Era formado em Filosofia pela USP e também foi professor de jornalismo na ECA.

Em 1975, Vlado ocupava o cargo de diretor de jornalismo da TV Cultura, o que já lhe valia uma atenção especial dos milicos que controlavam rigidamente o que podia ser assistido, ouvido, ensinado, dramatizado e publicado em livros, revistas e jornais. A prática da censura era uma das formas do regime silenciar seus opositores, e os alvos mais visados eram artistas, escritores, professores, e principalmente jornalistas.

No dia 19 de outubro de 1975, Vlado havia sido procurado pelos militares nas dependências do seu local de trabalho, portanto um dia antes do assassinato. Após uma tensa negociação, ele se comprometeu a comparecer pessoalmente às dependências do DOI-CODI do Comando Militar do Sudeste que funcionava num antigo prédio da rua Tomás Carvalhal, no Bairro do Paraíso, em São Paulo, para esclarecer o que fosse necessário a seu respeito. Há quem diga que Vlado usou desse estratagema para proteger seus colegas de emissora, uma vez que uma detenção abusiva e autoritária sobre a TV, poderia recair também em seus colegas de profissão.

Vlado se dirigiu espontaneamente, dirigindo seu próprio veículo, e sem nenhuma escolta ou guarnição militar ao local combinado, onde dez jornalistas já estavam detidos. O que deveria ser uma conversa franca e aberta, foi substituída por uma seção de torturas comandadas pelo capitão Ramiro, que pressionava Vlado a dar informações de jornalistas que militavam no Partido Comunista. Ele não resistiu às torturas e faleceu dentro das dependências do DOI-CODI

Seus algozes montaram uma farsa para sustentar o suicídio por enforcamento como causa da morte de Vlado, o que foi logo contestado por Henry Sobel, presidente da Congregação Israelita Paulista. Sobel exigiu que Vlado, que era judeu, fosse sepultado na área central do Cemitério dos Israelitas e não no espaço destinado aos suicidas.

Seis dias depois do sepultamento, um grande culto ecumênico conduzido pelo cardeal D. Paulo Evaristo Arns, pelo rabino Henry Sobel e pelo pastor James Wrightem em memória de Vlado foi celebrado na Igreja da Sé em São Paulo e reuniu aproximadamente oito mil pessoas, sob forte vigilância dos militares que ouviram os brados de "Basta" dos presentes (dentre eles o nosso querido Dom Hélder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife).

Vlado sempre se colocou contra a luta armada. Sobre o porquê de optar pela militância no partido Comunista, respondeu: "É uma questão de momento. A situação política no Brasil é grave. Só há dois movimentos organizados que podem se articular para combater a ditadura – a Igreja e o Partido Comunista. Eu sou judeu. Só tenho uma opção”.

Em 1979 a Justiça brasileira condenou a União pelo assassinato de Vlado. Apenas em 2013, a família teve nas mãos uma nova certidão de óbito, na qual a morte foi registrada como resultado de “lesões e maus tratos” infligidos no “II Exército (DOI-CODI)” –  um eufemismo ainda para abuso, tortura, homicídio. O caso Herzog foi apreciado até na Corte Interamericana de Direitos Humanos em 2017 numa audiência em São José, na Costa Rica.

50 anos depois de sua morte, sua família mantém vivo o legado de Vlado através do Instituto Vladimir Herzog. Uma de suas frases parece ter sido escrita para o que está acontecendo nos dias atuais: “Quando perdemos a capacidade de nos indignar com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerar seres humanos civilizados”. Casos como o de Vlado, do estudante Edson Luís, da estilista Zuzu Angel e seu filho Stuart Angel, da poetisa Soledad Barret, da psicóloga Iara Iavelberg devem ser lembrados para não serem esquecidos, e principalmente lutarmos para que nunca mais voltem a acontecer. Ditadura? Nunca Mais! 🙅🙅🙅

*O autor é professor da rede pública estadual de ensino e historiador; membro da ALAP, IAHGP, UBE, e do IHGAAP. Instagram: @josericardope01



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