quarta-feira, 21 de setembro de 2022

🙋👀 O OUTRO LADO DAS PESSOAS DIFERENTES 👩👂

📖✍️ Por José Ricardo de Souza*

Podemos aprender muitas lições interessantes com os super-heróis dos gibis. O Super-Homem, por exemplo, apesar de seus superpoderes, ele tinha um ponto fraco: a criptonita, um mineral capaz de tirar-lhes as forças. A idéia de que o homem mais poderoso do mundo dos quadrinhos possa ser derrotado por uma simples pedrinha traz uma idéia, no mínimo, filosófica; a de que todos nós somos limitados por alguma coisa ou por alguma característica, o que não nos impede, no entanto, de ter um papel de destaque na sociedade (como no exemplo do Super-Homem). A forma como a nossa sociedade se organizou criou uma série de preconceitos justamente contra as pessoas diferentes (não utilizo a terminologia "deficiente", por considerá-la pejorativa e desvinculada da realidade), que são vistas como pessoas incapazes para estudar, trabalhar, enfim, terem uma vida normal, dentro dos padrões estabelecidos pela sociedade. Sendo assim, faltam oportunidades e espaços para quem não vê, não fala, não anda, não ouve ou não consegue organizar a razão. Estes grupos ficaram relegados à exclusão social, considerados como indivíduos de terceira ou quarta categoria, sem nenhuma importância ou serventia para um modelo de sociedade calcado na visão narcisista do culto ao belo, diga-se ao corpo belo, cujo referencial de beleza é imposto pela mídia eletrônica, principalmente a televisão. Privilegia-se assim a estrutura física, e portanto visível do corpo, negligenciando-se todo um potencial cognitivo, que possa estar nele inserido. Assim, um cego ou um paralítico podem ser mais competentes do que uma pessoa "normal" mas ninguém lhes dá a merecida oportunidade ou o reconhecimento do seu valor, enquanto pessoa capaz de trabalhar, e participar da vida coletiva de sua sociedade.

Infelizmente, a nossa sociedade ainda está muito presa às aparências, se esquecendo da essência que está contida no ser das pessoas. Através dela, podemos saber quem você é, e não o que você parece ser. Portanto, de que adianta um corpo bonito, se você não sabe o que fazer com ele ? Ainda mais, sabendo-se que toda e qualquer beleza física é efêmera e passageira, vai-se com o passar do tempo, enquanto que a sua maneira de ser é um atributo que ficará por toda a sua existência. A questão de ser "diferente" das demais pessoas não define em nenhum aspecto sua personalidade, muito menos seu caráter. A noção de incapacidade que é imposta aos "diferentes" nada mais é, do que um pretexto para justificar a discriminação e o preconceito que lhes são delegados. Uma forma de legitimar a injustiça que se pratica contra as minorias "diferentes", enquanto uma maioria detém as melhores oportunidades e as colocações mais privilegiadas da sociedade. Fica, para estas minorias uma visão assistencialista e paternalista, associados com o mais puro pieguismo barato, que trata o "diferente" como um "coitadinho", incapaz de ganhar seu próprio sustento, e que por isso precisa mendigar uma pensão ou assistência do Estado. É assim que o governo e a sociedade pensam e tratam a questão do "diferente".

A prática, porém, demonstra outra realidade. Quando se dá ao "diferente" a oportunidade necessária para expor seu potencial, fica claro que o "diferente" pode, e deve, ser integrado ao mercado de trabalho, aos bancos da escola, à sociedade enfim, como pessoas capazes de terem o seu próprio sustento (para acabar com essa visão assistencialista do "coitadinho"), de manifestarem uma opinião própria, de se organizarem em associações, enfim de conquistarem seus direitos, enfim de exercerem sua cidadania. E esta começa com o reconhecimento, por parte da sociedade civil organizada, das lutas das minorias "diferentes" por oportunidades de trabalho e estudo, e por um projeto de governo que vise adaptar a sociedade para atender às necessidades dos "diferentes", como por exemplo, rampas em ruas e avenidas, e letreiros em braile nas paradas de ônibus. Com medidas aparentemente simples, a vida de centenas de pessoas podem melhorar sensivelmente, basta apenas um mínimo de vontade política dos governantes, mas aí é que reside o problema.

Em países desenvolvidos, pessoas portadoras de deficiências são vistas como seres normais, estudam, trabalham, possuem um bom padrão de renda, e são respeitadas pela sociedade. No Brasil, o "diferente" é exposto ao ridículo, muitas vezes tido como alvo de chacota por pessoas inescrupulosas, é excluído dos melhores empregos (tem muita gente que prefere colocar um mulherão na empresa a uma pessoa "diferente"), enfim é tido como um verdadeiro pária indiano, uma pessoa que paga por algum pecado, e que portanto merece a condição em que vive. Preconceitos e discriminações a parte, os verdadeiros deficientes (esses sim, deficientes mesmo, sem aspas) são as pessoas que mesmo tendo um corpo ou uma mente perfeita procuram atrapalhar a vida dos outros, não ligam para o estudo ou o trabalho, só querem viver da malandragem, prejudicando outras pessoas. Estes sim, são os verdadeiros DEFICIENTES. Não aqueles que mesmo sem ver, ouvir, andar, falar, escutar, ou pensar, dão sua contribuição para melhorar o mundo, num exercício diário de força, coragem e persistência. As pessoas que se consideram "normais" precisam aprender muito com os "diferentes", talvez eles saibam, melhor do que ninguém, demonstrar onde estão as criptonitas de nosso dia-a-dia, e assim possamos descobrir que ninguém é um super-homem, nem mesmo o super-homem dos quadrinhos. Em tempo: por uma casualidade do destino, o ator Chistoppe Lee, que interpretou o super-homem no cinema ficou tetraplégico depois de cair de um cavalo.

📝 O autor é historiador, professor da rede pública estadual, membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista, criador do projeto Muita História pra Contar. ⏳❤️⌛


sábado, 17 de setembro de 2022

🏠⏳🏠 HISTÓRIA DE MARANGUAPE I 🏠⌛🏠

🏠 Construído por volta de 1980-1981, o núcleo habitacional Maranguape I constitui-se num dos maiores parques habitacionais construídos pela Companhia de Habitação do Estado de Pernambuco (COHAB) com incentivos do extinto Banco Nacional de Habitação (B.N.H.).

Os primeiros moradores começaram a chegar aproximadamente em finais de agosto de 1982, e encontraram um bairro desprovido de transportes, comércio local e escolas. Quando foi entregue a população ainda faltava concluir a parte hoje denominada “Maranguape 0” (rebatizada de Jardim Maranguape), os apartamentos localizados após o antigo Balaio (atual O Popular) e os embriões localizados na frente do terminal de ônibus.

Os primeiros moradores encontraram dificuldades sem par em relação ao transporte. Eles eram obrigados a deslocarem-se até Rio Doce e daí seguirem para seus respectivos destinos. A primeira empresa de ônibus a servir Maranguape I foi à extinta Nápoles (na época apenas seis veículos na linha). O primeiro terminal de ônibus situava-se onde hoje é a Escola Manoel Gonçalves. É bom lembrar que as Kombi de lotação desempenharam um papel importante como uma alternativa para o transporte de passageiros no sentido Rio Doce – Paulista via Maranguape I. Posteriormente, quando se inaugurou Maranguape II a Empresa Oliveira (também extinta) que servia aquela área autorizou seus ônibus a entrarem na Avenida Brasil, nossa primeira artéria a ser asfaltada até a parte onde hoje se localiza a praça Emílio Russel.

A única escola pública que servia à população era a Escola Professor Arnaldo Carneiro Leão, que atendia aos alunos da 1ª a 8ª série do primeiro grau, porém era insuficiente para atender a todos os estudantes aqui residentes, o que forçava a maior parte a deslocar-se para Paulista, Olinda e Recife. Havia algumas, porém poucas, escolas particulares que atendiam da Alfabetização a 4ª série primária, embora de forma precária.

Tal qual a educação, a falta de um comércio local, obrigava os moradores a dirigirem-se para outras localidades a fim de fazerem suas compras. Algumas vezes se formavam longas filas (de até 60 pessoas) para comprar pão no único depósito que havia, atualmente fechado. O primeiro mercadinho e padaria foram, respectivamente, o Mercadinho Vieira e a Panificadora Serve Bem, localizados na rua 125. Os primeiros moradores de Maranguape I faziam suas compras nas feiras livres de Paulista (sábado) e de Abreu e Lima, quando a linha Paulista - Rio Doce deslocava-se exclusivamente à referida feira, aos domingos. Surgiram duas tentativas de se estabelecerem feiras livres aqui. A primeira, por trás do terminal, resumi-se hoje a um comércio bastante restrito. A segunda, nas proximidades do antigo Balaio, foi mais bem sucedida e a prova disto é que esta área ficou sendo o centro comercial do bairro.

Após a avenida Brasil, foram asfaltadas as avenidas: Manoel Quirino Tavares (onde se localiza o terminal) prosseguindo do girador até o fim dos embriões (depois foi concluída a pavimentação); Nélson Ferreira (que passa em frente ao antigo Balaio), e Colibri (que passa próxima ao Colégio Pernambucano – onde funcionava a Escola Santos Dumont).

Temos assim, em breves escritos, como foi o começo desta gigantesca comunidade. É certo que foi penoso para os nossos pioneiros moradores viverem nos primeiros anos de Maranguape I; foram muitas as adversidades a serem vencidas, obstáculos a serem transpostos, mas Maranguape I ultrapassou a todos eles e hoje se orgulha de ser uma das comunidades mais adiantadas do município do Paulista. 👏👏👏👏👏👏

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🧭 Concepção e elaboração do post 📝 José Ricardo🖋️ professor e historiador.

👉 Para saber mais sobre a cidade do Paulista, onde está localizado o bairro de Maranguape I, acesse o meu site:


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quarta-feira, 7 de setembro de 2022

🗡️🇧🇷 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A "INDEPENDÊNCIA DO BRASIL" - II 🇧🇷🗡️

🤝🏻 Não podemos afirmar que houve uma ruptura na cúpula do poder político, mas no máximo uma transição negociada com o próprio reino português, onde o princípe-regente nada mais era do que o herdeiro de D. João VI, o princípe D. Pedro. A famosa citação atribuída ao próprio D. João VI dá uma ideia disto: "Pedro, se o Brasil se separar, antes que seja para ti, que me hás de respeitar do que para qualquer desses aventureiros". (Citado em COTRIM, Gilberto. História e Consciência do Brasil. Saraiva: São Paulo, 1990)

💰 O Brasil deixou de ser dominado dentro do contexto colonialista de Portugal, mas passou para a influência do capitalismo da Inglaterra, que teve várias benefícios com a nossa emancipação como a renovação dos Tratados de 1810 que davam aos ingleses privilégios alfandegários. A única coisa que a Inglaterra não conseguiu dentro do contexto da emancipação foi a abolição da escravatura, uma vez que a mão-de-obra escrava era até então a base da economia da época.

😕 A população, em geral, nada teve a comemorar no dia 8 de setembro de 1822. A maioria da população continuava escrava, analfabeta e excluída das decisões nacionais. Os fazendeiros mantiveram seus latifúndios. A economia, que antes era dominada pelos portugueses, agora passaria a ser pelos ingleses. A mudança de regime não alterou, nem modificou as estruturas sociais da época, apenas consolidou o poder das arsitocracias rurais.

💣 Finalmente, para concluir, é equivocada a ideia de que ao contrário dos E.U.A. a nossa "Independência" se deu de forma tranquila e pacífica. Aconteceram verdadeiras "guerras pela independência" nas províncias em que a presença portuguesa era forte (Grão Pará, Piauí, Bahia) e também na província Cisplatina, que fora anexada por D. João VI dos espanhóis, mas que nunca aceitaram a dominação brasileira. Houve conflitos sim, e muita gente derramou o sangue para assegurar a "Independência". O Imperador D. Pedro I chegou a contratar soldados mercenários de outros países para reprimir os levantes, o que resultou em mais mortes e várias prisões.

#200anosdaindependenciadobrasil
#historiaimperialbrasileira
#DiadaIndependenciadoBrasil

🧭 Concepção e elaboração do post 📝 José Ricardo 🖋️ professor e historiador.

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🗡️🇧🇷 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A "INDEPENDÊNCIA DO BRASIL" 🇧🇷🗡️

🌍 A emancipação pollítica do Brasil foi influenciada por dois grandes fatos internacionais: a Independência dos Estados Unidos em 1776 e a Revolução Francesa de 1789

🇧🇷 Ao contrário dos países europeus, não existia no Brasil um sentimento de nacionalidade antes da emancipação, até porquê o Brasil era uma colônia portuguesa. Num caso "sui generis" no Brasil primeiro se criou o Estado para depois se construir um conceito de nação.

👑 O Brasil foi o único país das Américas que adotou o regime monárquico após a emancipação. O México também escolheu este caminho, mas lá a monarquia não durou sequer três meses...

💣 O grande medo das elites colonais, formada por latifundiários escravistas, era de que a exemplo do que aconteceu no Haiti, as camadas populares emcabeçassem o processo de emancipação, o que poderia resultar em mudanças sociais como o fim da escravidão.

⚖️ A Maçonaria teve um papel importante na condução do processo, e muitas personagens da independência foram mações, como José Bonifácio de Andrada e Silva, José Clemente de Oliveira e o próprio D. Pedro.

💰"Colônias não deixam de ser colônias só porque são independentes", a opinião do ministro inglês Disraeli deixava claro que mesmo livre da dominação portuguesa era preciso muito mais do que um "grito no Ipiranga" para libertar de fato o Brasil e desenvolvê-lo de forma autonôma.

📖 Alguns autores defendem que não foi D. Pedro quem usou da influência política das elites para mantêr-se no poder, montando assim o embrião do que viria a ser a monarquia brasileira; mas o contrário, de que o próprio D. Pedro teria sido "usado" pelas elites que viram nele a pessoa indicada para comandar o processo de emancipação sem alterar a estrutura social da ex-colônia.

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#historiaimperialbrasileira
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sábado, 3 de setembro de 2022

📚 TIRANDO DÚVIDAS❓HISTÓRIA ⌛ Maria Leopoldina Assinou o Decreto de Independência do Brasil?🤔

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👎 Infelizmente esta é uma desinformação que vem veiculada e disseminada até por pessoas do meio acadêmico. No entanto, nenhuma fonte histórica e nenhuma das pesquisas realizadas por historiadores e historiadoras atestam que Leopoldina tenha assinado um decreto de independência do Brasil. Ao que tudo indica, esse documento não existe nos arquivos. O que existe de fato é a ata da reunião do Conselho de Estado, assinada pelo jornalista Joaquim Gonçalves Ledo, que se reuniu no Palácio de São Cristovão, às onze horas da manhã do dia 2 de setembro de 1822, sob a presidência de D. Maria Leopoldina, como princesa-regente. Além dos ministros, estavam também presentes os procuradores-gerais das províncias. Nesse encontro, Maria Leopoldina, José Bonifácio de Andrada e Silva e os demais ministros deliberaram pela emancipação política do Brasil, mas nada relativo a um decreto assinado pela então princesa. Essa ideia está sendo muito difundida no presente, aparecendo inclusive em livros didáticos de História e repetida à exaustão em reportagens, blogs, podcasts, canais no youtube, etc... O que saiu mesmo dessa reunião foram as duas cartas escritas por D. Maria Leopoldina e José Bonifácio de Andrada, endereçadas a D. Pedro, e ambas incentivaram ele a fazer a imediata separação entre o Brasil e Portugal, a partir dos decretos vindos das Cortes de Lisboa, que tinham chegado ao Rio de Janeiro em 28 de agosto de 1822, trazidos no brigue Três Corações, os quais foram as determinações mais incisivas e restritas aos poderes de D. Pedro, enquanto príncipe-regente no Brasil. Não cabe aqui desmerecer ou relativizar o papel de Maria Leopoldina no processo emancipatório, uma vez que ela também participou das articulações políticas que levaram ao rompimento entre Brasil e Portugal, mas disseminar uma fake news, sem nenhuma comprovação histórica, nem mesmo referendada por autores e escritores especializados na biografia dela, como o paulista Paulo Rezutti (Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo) e o historiador Carlos Oberacker Jr. (que escreveu uma das biografias mais documentadas sobre Leopoldina) não ajuda no debate histórico, que deve ser feito com honestidade intelectual e fidelidade aos registros e escritos. Leopoldina foi importante? Sem dúvidas, mas disso para dizer que ela assinou a Independência, e que foi preterida, colocada em segundo plano, nos livros, aulas e registros pelo fato de ser mulher, não condiz com as fontes documentais, pelo menos as que até agora tivemos acesso. 📖✍️⏳

#fakenewshistorica
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#bicentenariodaindependenciadobrasil

👉 Para saber mais sobre a reunião do Conselho de Estado de 2 de setembro de 1822, acesse:


🧭 Concepção e elaboração do post 📝 José Ricardo 🖋️ professor e historiador.

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