domingo, 7 de agosto de 2011

UMA REFLEXÃO PARA O DIA DOS PAIS


por José Ricardo de Souza*

Acordar cedinho, tomar um ônibus, ir ao trabalho. Essa é rotina de milhares de homens espalhados pelo Brasil. Sob a sua responsabilidade, o peso de arcar com o sustento material de uma casa, proporcionar à esposa e aos filhos um mínimo de bem-estar, conforto, segurança e estabilidade. Zelar para que não falte isso ou aquilo, se preocupar quando vêm o final do mês e com ele as intermináveis contas a pagar... Como é difícil ser pai em nossos dias. É um desafio para poucos heróis, capazes de levar adiante o projeto de construir uma autêntica família.

Talvez as leitoras estejam se perguntando, mas e o papel da mulher? "Nós também somos trabalhadoras, e como mães responsáveis pela manutenção do lar". É verdade, vocês mulheres, são muito importantes no contexto da família, mas deixe-me falar do homem, do pai, do verdadeiro pai. Aliás, já notaram como a sociedade comemora muito mais o dia das mães do que o dia dos pais? Que pena, perdemos uma oportunidade ímpar para demonstrar nossa gratidão e respeito a este nosso herói, aquele que primeiro assumiu o compromisso de nos manter, cuidar, educar, dar a nós, como filhos, o melhor de si, ainda que em meio aos cansaços e estresses da vida. Como é bonito um pai carregando um filho nos braços, é a vitória da vida, que teima em renascer e aparecer a cada dia e a cada momento.

Antigamente, quando a televisão não ocupava o lugar principal da sala, e as famílias iam para os terraços e alpendres, havia entre pais e filhos maior diálogo, mais respeito e muita, mas muita compreensão. Eram tempos bons aqueles, em que uns se conheciam aos outros, e tanto pais como filhos podiam partilhar do aconchego de um lar verdadeiramente feliz. Havia brigas, divergências, é claro, mas todos sabiam como sair-se delas sem machucar, nem ferir ninguém, porque havia a lógica do perdão, o reconhecimento da ternura singela que permeava a relação pais e filhos. Passado o tempo da felicidade, vieram as mudanças da vida moderna, e a família nunca mais foi à mesma, perdeu sua estabilidade após a Lei do Divórcio, e ficou menos articulada quando o vídeo substituiu a cabeça que pensava, falava e aconselhava no meio familiar.

Quem perdeu com tudo isso foram nossas famílias, que hoje são constantemente agredidas e denegridas pelos falsos valores da novela, pelo programa que incita a violência gratuita e o bate-boca, pelo casal que transa sem respeitar as nossas crianças que estão na sala. E como se não bastasse tudo isso, ainda temos um governo que pouco faz para garantir o bem-estar de nossas famílias, jogadas numa sociedade violenta, poluída, sem uma política de educação, saúde e habitação, que exclui do mercado de trabalho milhares de brasileiros, condenados à fome, às favelas e à miséria.

O conceito de família é diluído entre falsos valores que pregam o liberalismo sem responsabilidades, o amor que não assume compromissos. O resultado está nas Varas de Família, onde centenas de mulheres buscam legalmente a pensão, que irresponsavelmente os ex-esposos se recusam a pagar. Ninguém mais fala em casamento, "juntam-se os troços" e está feita a família, que na maioria das vezes, se abriga na casa de um dos pais do casal.

Por tudo isso, é que insisto em afirmar o quanto é difícil assumir o papel do pai numa sociedade como a nossa. Numa determinada propaganda, dizia-se que não basta ser pai, tem que participar, e isso é uma regra básica para entender o mistério da paternidade, levado numa análise mais teológica, diria que Deus, como Pai, participou desse mistério no momento em que enviou Seu Filho, Jesus Cristo, encarnado como ser humano para resgatar a humanidade. Deus representa o exemplo maior de Pai, que se identifica na história de seus filhos, como Aquele que cuida, guia, ilumina e perdoa a todos nós, indistintamente, pois pela Sua graça, somos todos irmãos, somos todos iguais. A paternidade de Deus revela o poder do amor que se dá, sem nada esperar, a esperança que sempre indica a mínima das possibilidades como o caminho para a vitória e a luz que somente um verdadeiro pai é capaz de irradiar para seus filhos.

A sabedoria popular costuma dizer que "se um pai trata dez filhos, dez filhos não tratam um pai", não seria este um alerta da nossa ingratidão para com aqueles que tanto nos estimam? O que falta então para romper com essa nossa falha, enquanto filhos, pois como podemos celebrar o Pai celeste, esquecendo do pai terreno que Deus nos confiou como benção e dádiva divina? No Dia dos Pais, não exagere na importância de se dar um presente, pois o maior e melhor presente é a sua presença com o seu "Querido Velho". E caso o Pai Celestial tenha chamado para si seu pai terreno, não esqueça de que uma oração é sempre bem recebida no outro lado, afinal Deus ouve com carinho a oração de um filho, que aqui da Terra, ora pelo seu pai, que está lá nos céus.

PS.: deixo registrada minha homenagem póstuma a meu pai, José Rozendo: "Pai, descanse em paz, Amém"

* O autor é historiador, professor, escritor; membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista.

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