quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

ESPECIAL PADRE JOÃO RIBEIRO - Reportagem da época



PAULISTA SEPULTA CRÂNIO DE PADRE REVOLUCIONÁRIO

padre João Ribeiro foi um dos líderes da Revolução Pernambucana de 1817

por José Ricardo de Souza*

No último dia 29 de outubro de 2001 foi sepultado na Igreja de Santa Isabel, no centro de Paulista, o crânio do padre João Ribeiro Pessoa de Mello Montenegro, um dos líderes da Revolução Pernambucana de 1817, revolta que pretendia libertar o Brasil de Portugal. O crânio fazia parte do acervo do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco, onde ficava exposto numa urna, até ser doado para a Paróquia de Nossa Senhora dos Prazeres de Maranguape (nome oficial da Paróquia de Paulista), que juntamente com outros órgãos (Prefeitura Municipal e Governo Estadual) viabilizaram o sepultamento do crânio nas dependências da Igreja. O crânio do padre João Ribeiro foi recebido com honras de um verdadeiro herói, num cortejo acompanhado por batedores da Bptran, tropas da cavalaria, que se juntaram na entrada da cidade, salva de tiros, e um Cadilac de 1929, onde foi trazido a urna mortuária. Ao chegar à cidade, por volta das 10:30 h, autoridades, estudantes e populares aguardavam na frente da Igreja o cortejo, embora, muita gente não sabia muito bem do que se travasse. Alguns pensaram até que fosse um funeral da família Lundgren, outros dias que a urna continua cinzas ...

Após a chegada do cortejo, foram feitos alguns discursos, ainda em frente à Igreja, e às 11:00 h teve início à missa. Durante o sermão, o vigário, padre Valdemir José, reconheceu publicamente o erro da Igreja em haver ignorado durante tantos anos (mais de dois séculos) o crânio do padre revolucionário, e que finalmente agora o padre teria um sepultamento digno de um servo da Santa Igreja. Ele também ressaltou a importância do padre João Ribeiro para a História de Paulista e da Igreja também: “a Igreja, nunca foi descomprometida com a causa social como muita gente quer, a Igreja sempre motivou o povo a buscar sua libertação”. Carlos Bezerra Cavalcanti, sócio do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco, lembrou que na análise do historiador Oliveira Lima o movimento de 1817 foi o único que mereceu o nome de revolução, pois “veio realmente para mudar a aristocracia, embora não tenha vingado”. Na opinião de Carlos Bezerra, o padre João Ribeiro foi um grande religioso, um herói e um mártir.

Diretores de duas grandes escolas também estiveram presentes na solenidade, foram eles José de Anchieta, do Colégio Municipal José Firmino da Veiga, e o padre Renato Maia, diretor do Colégio Paroquial Nossa Senhora de Fátima. Ambos, assim como a maioria dos presentes, ressaltaram a importância do fato histórico, do papel do padre João Ribeiro, e da necessidade de se resgatar a memória dos grandes líderes do povo. Padre Renato Maia afirmou que “o padre João Ribeiro lutou para criar uma terra sem donos, sem propriedades, uma terra de irmãos, lutou e deu a vida por isso”. Ele lembrou que a Escola Paroquial foi uma das primeiras a fazer um resgate da História do Paulista, uma “história muito mais bonita do que essa que foi apregoada de maneira oficial por tempo”, destacou.

O vice-prefeito, Aguinaldo Fenelon, mostrou-se preocupado com a perca dos valores históricos: “o nosso povo está perdendo a referência, os nossos jovens, os nossos estudantes, não conhecem a nossa história; após um evento público como este, o estudante vai começar a ler e entender melhor os nossos heróis”. Fenelon destacou a importância desse tipo de resgate histórico para a construção da cidadania, pois como foi por ele colocado “cidade que não tem história, não tem futuro”. Mas, também é preciso, segundo ele, “levar o evento de hoje às escolas públicas e particulares do nosso município”.

O prefeito, Antônio Speck, destacou o caráter libertário do povo pernambucano: “Pernambuco sempre foi um povo altivo, lutador, um povo que queria liberdade., e não queria ficar sob o jugo do opressor”. Para Speck, “esse ato do Instituto Arqueológico e Geográfico de transferir para Paulista os restos mortais de padre Ribeiro é de grande importância, até porque para que nos venhamos a cultivar a nossa história”. Speck reconheceu que “o crânio do padre deveria estar aqui (em Paulista) há mais tempo”. O prefeito também destacou o fato com a importância do turismo religioso para a cidade, uma das metas de sua administração.

Por volta das treze horas, a cerimônia foi encerrada com a colocação da urna no túmulo, encerrando assim uma história de lutas de mais de dois séculos, desde a morte do padre até o seu repouso perpétuo. Esperamos que as causas pelas quais o padre João Ribeiro deu a sua vida, como por exemplo, a igualdade, a justiça, o compromisso com os pequenos, não sejam esquecidas. O seu exemplo, possa servir de referência para o nosso povo, que precisa conhecer mais sobre sua história, seus líderes, principalmente aqueles que lutaram por um ideal, e foram até as últimas conseqüências por isso. Padre João Ribeiro foi um destes exemplos, que não podem, nem devem, ser esquecidos.

* Publicado no Jornal O DIÁLOGO da Paróquia de Nossa Senhora dos Prazeres de Maranguape, na edição de novembro de 2001

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