Olá estudantes, professores, pesquisadores e amantes da ciência histórica. Neste blog vocês encontrarão vasto material de minha autoria sobre assuntos relacionados a esta ciência, além de vários links úteis para seu aprendizado. Bem vindos à nossa estranha confraria, que zela para que os feitos dos homens não se percam nas névoas do tempo. Que a musa Clio nos guie nessa jornada pelo passado. #muitahistoriapracontar
sábado, 15 de novembro de 2025
💪🙋🔰 A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA NO BRASIL 🔰🙋👊
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
💪👊🙋 A REPÚBLICA É FILHA DE OLINDA 🙋👊💪
domingo, 2 de novembro de 2025
👊📚👊🏾 MINHA SOLIDARIEDADE A PROFESSORA JAQUELINE MUNIZ 👊🏿📝👊🏼
🕵📚 Nos últimos anos venho dedicado algumas horas do meu dia a estudar a ascensão da extrema-direita, não apenas no Brasil, mas também no mundo; o que querem, quem são, quais suas estratégias, e por que seu discurso ganha eco, principalmente nas camadas mais empobrecidas.
Umas das estratégias mais usadas por ele é a DESQUALIFICAÇÃO da pessoa ou do lado PROFISSIONAL da pessoa que se coloca contra aquilo que eles defendem. E fazem isso atacando não as ideias, mas a aparência, o trabalho, ou a área em que aquela pessoa atua.
Exemplos disso temos às dezenas. Os mais recentes são Júnior (da dupla Sandy e Júnior), Alcione, Zé Ramalho por seus posicionamentos contrários ao autoritarismo da extrema-direita.
A bola da vez é Jacqueline Muniz, por causa das inúmeras entrevistas sobre o massacre que foi a operação contenção com mais de 120 mortos, a maioria negros e favelados, novidade nenhuma quando vemos o projeto de necropolítica que esse grupo defende.
Apesar de ser uma pessoa com formação superior, com doutorado inclusive, ela vem sendo atacada por influencers, youtubers, e perfis de extrema-direita com todo tipo de ofensa. Essas postagens aparecem do nada no feed das pessoas, porque são impulsionadas (alguém está pagando, e caro, por isso) para que cheguem ao maior número de pessoas possível (viu como precisamos falar sobre regulação das redes sociais?). Fora, é claro, as dezenas de memes disseminados nos grupos de zap e Telegram, a bolha preferida dos neofascistas.
Enquanto profissional de ciências humanas, professor, historiador, pesquisador, membro de institutos históricos e de academias de letras, não poderia deixar de prestar minha solidariedade a professora JAQUELINE MUNIZ e a todos que pagam um alto preço pela coragem, ousadia e determinação em defender a democracia, lutar pelas minorias, tirar da invisibilidade os excluídos, e colocar sempre o Estado Democrático de Direito como sua principal bandeira. 👊👊🏼👊🏽👊🏾👊🏿
#solidariedade #esquerda #naopassarao #segurancapublica #cienciashumanasesociais
🧭 Concepção e elaboração do post 📝 José Ricardo 🖋️ professor e historiador.
quarta-feira, 29 de outubro de 2025
🥀🖤🚨😭 RIO DE LUTO 😭🚨🖤🥀
sábado, 25 de outubro de 2025
🔯⚫ OS 50 ANOS DA MORTE DE VLADIMIR HERZOG 😢🖤
por José Ricardo de Souza*
O assassinato de Vladimir Herzog (Vlado), que hoje, dia 25 de outubro de 2025 completa seus 50 anos, foi um dos casos mais emblemáticos da História da Ditadura Militar brasileira. Sua morte abriu feridas profundas dentro das patentes mais altas da caserna, deixando bem evidente o racha entre quem defendia a distensão do regime militar iniciado em 1964 e quem não queria largar o poder, a chamada Linha Dura (Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva já admitiam a passagem do poder para os civis, mas de forma lenta e gradual).
A família de Vlado era originária do antigo Reino da Iugoslávia, seguidores do Judaísmo, por isso fugiram para o Brasil para escapar da perseguição aos judeus estimuladas e executadas pelos nazistas na Europa dos anos 1930.
Herzog naturalizou-se brasileiro e construiu uma premiada carreira no jornalismo brasileiro, além de cineasta. Era formado em Filosofia pela USP e também foi professor de jornalismo na ECA.
Em 1975, Vlado ocupava o cargo de diretor de jornalismo da TV Cultura, o que já lhe valia uma atenção especial dos milicos que controlavam rigidamente o que podia ser assistido, ouvido, ensinado, dramatizado e publicado em livros, revistas e jornais. A prática da censura era uma das formas do regime silenciar seus opositores, e os alvos mais visados eram artistas, escritores, professores, e principalmente jornalistas.
No dia 19 de outubro de 1975, Vlado havia sido procurado pelos militares nas dependências do seu local de trabalho, portanto um dia antes do assassinato. Após uma tensa negociação, ele se comprometeu a comparecer pessoalmente às dependências do DOI-CODI do Comando Militar do Sudeste que funcionava num antigo prédio da rua Tomás Carvalhal, no Bairro do Paraíso, em São Paulo, para esclarecer o que fosse necessário a seu respeito. Há quem diga que Vlado usou desse estratagema para proteger seus colegas de emissora, uma vez que uma detenção abusiva e autoritária sobre a TV, poderia recair também em seus colegas de profissão.
Vlado se dirigiu espontaneamente, dirigindo seu próprio veículo, e sem nenhuma escolta ou guarnição militar ao local combinado, onde dez jornalistas já estavam detidos. O que deveria ser uma conversa franca e aberta, foi substituída por uma seção de torturas comandadas pelo capitão Ramiro, que pressionava Vlado a dar informações de jornalistas que militavam no Partido Comunista. Ele não resistiu às torturas e faleceu dentro das dependências do DOI-CODI
Seus algozes montaram uma farsa para sustentar o suicídio por enforcamento como causa da morte de Vlado, o que foi logo contestado por Henry Sobel, presidente da Congregação Israelita Paulista. Sobel exigiu que Vlado, que era judeu, fosse sepultado na área central do Cemitério dos Israelitas e não no espaço destinado aos suicidas.
Seis dias depois do sepultamento, um grande culto ecumênico conduzido pelo cardeal D. Paulo Evaristo Arns, pelo rabino Henry Sobel e pelo pastor James Wrightem em memória de Vlado foi celebrado na Igreja da Sé em São Paulo e reuniu aproximadamente oito mil pessoas, sob forte vigilância dos militares que ouviram os brados de "Basta" dos presentes (dentre eles o nosso querido Dom Hélder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife).
Vlado sempre se colocou contra a luta armada. Sobre o porquê de optar pela militância no partido Comunista, respondeu: "É uma questão de momento. A situação política no Brasil é grave. Só há dois movimentos organizados que podem se articular para combater a ditadura – a Igreja e o Partido Comunista. Eu sou judeu. Só tenho uma opção”.
Em 1979 a Justiça brasileira condenou a União pelo assassinato de Vlado. Apenas em 2013, a família teve nas mãos uma nova certidão de óbito, na qual a morte foi registrada como resultado de “lesões e maus tratos” infligidos no “II Exército (DOI-CODI)” – um eufemismo ainda para abuso, tortura, homicídio. O caso Herzog foi apreciado até na Corte Interamericana de Direitos Humanos em 2017 numa audiência em São José, na Costa Rica.
50 anos depois de sua morte, sua família mantém vivo o legado de Vlado através do Instituto Vladimir Herzog. Uma de suas frases parece ter sido escrita para o que está acontecendo nos dias atuais: “Quando perdemos a capacidade de nos indignar com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerar seres humanos civilizados”. Casos como o de Vlado, do estudante Edson Luís, da estilista Zuzu Angel e seu filho Stuart Angel, da poetisa Soledad Barret, da psicóloga Iara Iavelberg devem ser lembrados para não serem esquecidos, e principalmente lutarmos para que nunca mais voltem a acontecer. Ditadura? Nunca Mais! 🙅🙅🙅
*O autor é professor da rede pública estadual de ensino e historiador; membro da ALAP, IAHGP, UBE, e do IHGAAP. Instagram: @josericardope01
domingo, 5 de outubro de 2025
💪👊 A CONVENÇÃO DE BEBERIBE 📜✍️
Quem passa hoje na praça da Convenção no bairro de Beberibe e se depara com o monumento erguido em 1972, obra do gigante Abelardo da Hora, sequer imagina que ali (ou bem próximo daquele local) um grande acordo conseguiu evitar um banho de sangue fratricida na então Província de Pernambuco em 1821, um ano antes da emancipação política do Brasil em relação a Portugal, efetuada em 7 de setembro de 1822 às (quase) margens do riacho do Ipiranga por D. Pedro. Mazombos (como eram chamados os “nascidos” na terra) e pés-de-chumbo (como chamavam os portugueses), e aqui vale lembrar que estes adjetivos eram uma espécie de bullyng da época, chegaram a um consenso em 5 de outubro de 1821 no acordo que ficou conhecido como Convenção de Beberibe.
As tensões na Província de Pernambuco vinham de muitos anos antes e estavam relacionadas principalmente à questões políticas (a ingerência da Coroa Portuguesa sediada no Rio de Janeiro que impedia a autonomia local) e econômicas (cobranças de impostos e decadência da agromanufatura da cana-de-açúcar agravada com a descoberta de ouro e metais precisos no centro-sudeste). Pernambuco cultivava seus brios desde a expulsão dos holandeses em 1654 e não estava disposto a ceder aos pleitos da corte joanina que estava exilada no Brasil após a invasão das tropas napoleônicas em Portugal.
No dia 6 de março de 1817 explodiu uma Revolução republicana, federalista, e constitucionalista; liderada principalmente por religiosos ligados à Maçonaria, daí o nome “Revolução dos Padres”. Frei Caneca tem seu batismo revolucionário nesta revolta (ele estava na benção das bandeiras em 2 de abril de 1817). 1817 teve de tudo um pouco: brigas, mortes, bandeira (que aliás até hoje é a bandeira oficial do Estado, claro que com algumas modificações), jornal (“Preciso”), um esboço de constituição, embaixador do Brasil nos Estados Unidos (Antônio Gonçalves da Cruz, mas você ouve falar mais dele como Cruz Cabugá), e até um romance shakespeariano entre o comerciante capixaba Domingos José Martins e a filha de comerciantes portugueses Maria Teodora da Costa.
Tudo ia bem se não fosse um detalhe: alforriar os escravizados que lutassem lado a lado com os revolucionários; afinal a vibe hatianista de Toussaint Louverture (liderança negra da Independência do Haiti) não havia sido bem digerida pelos senhores de engenho, que de antemão retiraram seu apoio à causa rebelde. Não se faz uma revolução apenas com ideias e, principalmente, sem armas! Dom João, retratado equivocadamente como um néscio (eufemismo de idiota) não titubeou em reprimir violentamente a Revolução de 1817 que durou apenas 75 dias e terminou com muito sangue derramado, inclusive eclesiástico – pela primeira vez na História do Brasil condenou-se padres a pena capital. Prisões e degredos deram o plus que faltava para desencorajar novas revoltas na província, agora sob o jugo do general português Luís do Rego Barreto.
1817, no entanto, deixou feridas abertas que sangraram em 1820 com a Revolução Constitucionalista do Porto que aconteceu em 24 de agosto daquele ano, e desatou dois nós: o da anistia aos presos políticos de 1817, e o do reconhecimento do poder local das juntas governativas nas províncias. É nessa brecha que os goianenses, liderados por Francisco de Paula Gomes dos Santos e Felippe Menna Callado da Fonseca, egressos das lutas de 1817, tomaram posse na Junta Governativa de Goiana em 29 de agosto de 1821. Rego Barreto ficou enfurecido, mas sem deixar o cargo, um afago de Dom João pelo servicinho sujo feito para reprimir os pernambucanos.
A província de Pernambuco ficou então dividida entre duas juntas e o impasse estava na disputa entre quem de fato mandaria: os mazombos de Paula Gomes e Callado da Fonseca ou os pés-de-chumbo de Rego Barreto? Olha aí as rusgas de 1817 aparecendo novamente… Já que não havia um consenso amigável, ambas trocaram a força do argumento pelo argumento da força! E estavam dispostos a resolver no braço e na bala o que não conseguiram na conversa e no bico de pena.
Em 15 de setembro de 1821, o exército goianense (se é que podemos chamá-lo assim, até porque estava muito mais para uma milícia particular) desceu rumo ao Recife, comandado por Felippe Menna Callado da Fonseca. Houve conflitos em quatro pontos de Olinda, inclusive na estrada entre o Engenho Fragoso e o bairro de Guadalupe; e em Afogados no Recife. Se não fosse pela deserção nas tropas leais a Rego Barreto, os pernambucos teriam sido derrotados logo em Igarassu, mas valendo-se dessa desorganização militar do lado português, foi que Callado da Fonseca conseguiu levar os goianenses até Recife e cercar a cidade.
À beira de um confronto violento e mortal para ambos os lados, os comandantes Callado da Fonseca e Rego Barreto firmaram uma trégua, que reconhecia a existência das duas juntas: a goianense e a recifense; seguindo de uma proposta, no mínimo, audaciosa e arriscada para os portugueses: decidir nas urnas quem deveria governar a província. Rego Barros dobrou a aposta e assegurou que se fosse derrotado deixaria o Brasil. O pleito eleitoral se deu em 26 de outubro de 1821 na Sé de Olinda, e para alegria dos pernambucanos, o vencedor foi o comerciante Gervásio Pires Ferreira. Rego Barreto cumpriu a promessa e no mesmo dia zarpou para Lisboa, acompanhado de parte de suas tropas e de protegidos e amigos, compreendendo que sua missão no Brasil estava concluída. Era o fim do Governo português em Pernambuco.
A vitória de Gervásio Pires, na prática, representou a autonomia político-administrativa que vinha sendo pautada desde a Revolução de 1817. Apesar de não ter concluído seu mandato (ele sofreu um golpe em 17 de setembro de 1822, dez dias após a Independência do Brasil e acabou sendo substituído por um grupo ligado à oligarquia rural: a “Junta dos Matutos”), Gervásio Pires na condução da Junta Provisória do Governo de Pernambuco conseguiu antecipar em onze meses a emancipação política pernambucana antes mesmo do Grito do Ipiranga. Convém salientar que é impossível separar a Junta Governativa de Goiana da Convenção de Beberibe. Ambas são dois lados de uma mesma moeda, cujo valor está na coragem, ousadia e determinação do povo pernambucano.
* O autor é professor da rede pública estadual de ensino e historiador. Membro da ALAP (Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista), IAHGP (Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano) e do IHGAAP (Instituto Histórico. Geográfico, Arqueológico e Antropológico da Cidade do Paulista).