📖✍️ Por José Ricardo de Souza*
👉 Nota do autor: este artigo foi escrito há vinte anos, portanto reflete o contexto da época no qual foi elaborado, o que não diminuí sua contemporaneidade e relação temporal com os fatos que estamos vivenciando no começo de 2023.
A partir de hoje (28/10/02) começa um novo período na História do Brasil. Pela primeira vez, um operário ocupa o cargo público mais importante do país, fato inédito, único, que enche de orgulho quem também é pobre, trabalhador, migrante, nordestino, morador de periferia, como foi um dia Luís Inácio Lula da Silva. É sem dúvida um momento histórico de repercussões avassaladoras. Quem estava acostumado com as elites ocupando o poder central vislumbra agora com um homem que fez parte da História recente deste país. Afinal, enquanto muitos calaram e/ou colaboraram com os governos militares, Lula foi o primeiro a organizar as históricas greves no ABC paulista, prova de sua coragem como líder sindical, numa época onde defender os pequenos era sinônimo de prisões e torturas. Aos poucos, diante da luta pelos direitos sociais e políticos dos operários e camponeses nasceu uma estrela: vermelha como a cor do sangue, não sangue de morte, mas sangue como símbolo da vida. Um partido com a cara e a coragem de quem sua e produz para a nação: o Partido dos Trabalhadores - PT.
A utopia de construir uma sociedade justa era grande demais para o Partido dos Trabalhadores, e por isso era preciso envolver a sociedade civil organizada e ir à luta, companheiros. Foram momentos marcantes, que as páginas da História testemunharão para as gerações futuras: os projetos e votações para garantir os direitos sociais e trabalhistas na Assembléia Constituinte, as manifestações pelo impeachment de Collor, os protestos contra as privatizações no governo de FHC, e em cada acontecimento deste, Lula esteve lá, presente, como um arauto do povo, como sempre alijado das grandes decisões políticas, mas que podiam contar o carisma do líder petista.
Não foi fácil a trajetória de Lula à presidência. Ele foi incompreendido, discriminado por não ter curso superior, caluniado, enfim tentaram apagar sua estrela, mas Lula tinha um ideal, propostas, objetivos definidos, e mesmo depois de três derrotas consecutivas, ainda sonhava em ocupar a cadeira presidencial. Finalmente, chegou a sua vez. Lula deverá iniciar um governo popular, não populista, como já aconteceu em outros governos republicanos, e isto será o grande diferencial na administração petista. O Partido dos Trabalhadores agora não pertence apenas aos trabalhadores, mas é também o partido dos empresários e dos banqueiros, os mesmos grupos que um dia torceram o nariz diante da possibilidade de um governo vermelho, como eles chamavam, com receio de uma revolução comunista que lhes tirasse o direito de propriedade. O que mudou então, para que grupos antagônicos apoiassem o mesmo projeto político? As elites aprenderam, a duras penas, que sem justiça social o país afunda na criminalidade, na corrupção, no poder paralelo do narcotráfico, e que a miséria é o caldo que efervesce as drogas, as favelas, a prostituição, o banditismo. Portanto, não tem outra saída, ou as camadas mais abastadas apostam suas fichas em projetos de cunho social e educativo, ou vamos ser eternos reféns do medo, este sim, um medo real de ser assaltado, seqüestrado, assassinado ...
A eleição de Luís Inácio Lula da Silva não é uma revolução propriamente dita, revoluções não acontecem da noite para o dia, nem são resultados da ação pessoal de líderes isoladamente, mas assinala para o fim de um processo: o da transição democrática, iniciada com a eleição de Tancredo Neves, via Colégio Eleitoral, passando pelo governo de José Sarney, pela elaboração e promulgação de uma nova Constituição, pela Era dos Fernandos (de Collor a FHC), até a consumação do pleito que consagra Lula como novo presidente da república. Houve, de fato, um amadurecimento das intuições democráticas no Brasil, embora o Congresso Nacional e as Assembléias Estaduais ainda guardem resquícios de grupos conservadores de orientação direitista que perderam o bonde da História. A população também amadureceu politicamente neste processo, aprendeu que votar é muito mais do que apertar algumas teclas, votou com consciência da necessidade de mudanças, de reformas na estrutura social, cansou das mentiras e promessas mirabolantes de quem ocupou o poder e pouco fez em defesa dos oprimidos.
Tenho orgulho em admitir que meu país desta vez escolheu sem medo de ser feliz. Quero comemorar, afinal não é todo dia que um pobre, trabalhador, operário ocupa o poder de uma nação; provando que quem nasceu para ser estrela, não brilha no rés do chão. Vamos celebrar este momento com a alegria do dever cumprido, depois de tantas derrotas, enfim amadurecemos, e aprendendo com os erros, o Partido dos Trabalhadores escreve mais uma vez, uma nova página na História brasileira. No entanto, a luta é contínua, e apenas começou. Agora, é hora de arregaçar as mangas e construir um país mais justo e digno de se viver. Parabéns Luís Inácio Lula da Silva, pernambucano, trabalhador, novo presidente da República Federativa do Brasil.
📝 O autor é historiador, professor da rede pública estadual, membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista, criador do projeto Muita História pra Contar. ⏳❤️⌛
👉 Para saber mais sobre a posse de Lula em 1° de janeiro de 2023, acesse:
⏳#muitahistoriapracontar⌛
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