quinta-feira, 2 de junho de 2011

DISCUTINDO SOBRE A VIRGINDADE



por José Ricardo de Souza*

Pesquisa recente realizada nos Estados Unidos revela: aumenta o número de jovens que optaram por chagarem ao casamento, celibatários, ou seja, sem terem tido qualquer tipo de relação sexual. Eles alegam motivos pessoais e principalmente religiosos para sustentarem tal decisão. Essa busca por um estado de pureza pré-nupcial têm levantado muitas discussões sobre o tema da virgindade, agora num leque muito maior, pois além da virgindade feminina, há uma cobrança também da virgindade masculina, até mesmo como uma forma de demonstrar o amor pela parceira ou companheira. Afinal de contas, fica a questão: qual a importância da virgindade ?

É difícil apontar as vantagens da virgindade. Nada comprova que pessoas virgens se dêem mais satisfeitas no exercício da sexualidade (isso quando iniciam-se sexualmente) do que aquelas que já praticam ou praticaram sexo. Biologicamente, não há nenhuma característica que justifique o zelo pela virgindade. Sendo assim, resta concluir que a virgindade é uma questão meramente cultural, imposta ao ser humano pela sociedade em que vive como forma de contenção social. É de destacar que as religiões exercem um papel muito importante na defesa da virgindade, utilizando argumentos bíblicos e filosóficos para justifica-la. É muito mais simples apontar as desvantagens da sexualidade mal vivida, aquela que escraviza o ser em vez de liberta-lo, aquela que é vazia, desprovida de sentidos, instintivamente mecânica, que funciona apenas para a satisfação momentânea do instinto, sem qualquer preocupação com as conseqüências ou com os sentimentos da pessoa envolvida.

Portanto, tão hipócrita quando exigir a virgindade, principalmente das mulheres, como prova de pureza (como se o valor moral da mulher estivesse numa ínfima película escondida nas entranhas da vagina) é defender o sexo fácil e sem escrúpulos, vazio e imprudente, que existe como um fim em si mesmo, e não como um meio para a realização pessoal do ser humano. Diante desses fatos, é preferível vivenciar a castidade de forma consciente e responsável (como uma escolha individual e não como uma imposição da religião ou da sociedade) do que fazer o jogo torpe de quem investe pesado na banalização do sexo, como forma de lucrar alto em cima de pessoas imaturas e precocemente inseridas no exercício da sexualidade.

Decidir quando deve-se começar a iniciação sexual é uma questão que compete somente a pessoa que está lidando com ela. Exige muita serenidade, para não deixar como resquícios, dúvidas, incertezas e frustrações. É, sem dúvida, um momento muito importante na vida das pessoas, uma vez que, como bem lembra a sabedoria popular "a primeira impressão é a que fica", ou seja, é a partir da "primeira vez" que o indivíduo vai trabalhar a sua sexualidade, como forma de aprimoramento e por que não de crescimento psíquico-social. Portanto, ninguém deve, nem pode, ser forçado a ter uma iniciação sexual apenas para agradar a amigos e parentes, para afirmar-se "como homem", ou por que na televisão todos transam sem o menor constrangimento na novela.

Além do mais, nem sempre a perda da virgindade se dá com o devido amor e carinho necessários. Lembremos das mulheres vítimas de violência sexuais, imaginem a dor de quem é obrigada a contar ao namorado de que um estranho arrebatou-lhe o hímem com violência e brutalidade. E mais ainda, contar com o apoio psíquico da família e dos amigos, até reorganizar novamente a cabeça e o coração. É uma experiência da qual só quem passou é capaz de avaliar o que estou escrevendo. E aquelas mulheres que acreditam num amor eterno e verdadeiro, mas foram enganadas e abandonadas por seus parceiros, será que perderam a dignidade, por isso ? Assim como virgindade não é sinônimo de pureza (sexo oral e/ou anal, por exemplo não rompem o hímem, e muita gente que pratica se diz virgem) a ausência dela também não pode ser considerada sinal de promiscuidade, ou seja, todas as pessoas, independentes de serem celibatárias ou não, merecem o mesmo grau de respeito e dignidade no aspecto da sexualidade. Isso é um direito natural, e portanto inalienável, de todas as pessoas, sem distinção.

Assim sendo, precisamos olhar para a questão da virgindade, com olhos menos preconceituosos, tanto para quem já a perdeu, como para quem ainda a conserva para um momento de entrega mais íntima e pessoal. Encarada como um tabu pelas sociedades mais conservadoras, a virgindade volta a ser posta em discussão pelos estudiosos da Psicologia Afetiva, como forma de melhor compreende-la e vivenciá-la. Da mesma forma que se abre espaço para a liberalização do sexo, por que não discutir a virgindade, não como uma imposição, mas como uma opção a mais para o exercício da sexualidade, um caminho diferente e pouco explorado daquele que é comumente explorado pela mídia e pela indústria do erotismo e da pornografia.

* O autor é historiador, professor, escritor; membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário