sábado, 4 de junho de 2011

ESTOU LIGEIRAMENTE GRÁVIDA, E AGORA ?


por José Ricardo de Souza*

Quantas jovens e adolescentes não se colocam na situação acima descrita ? Em meio aos grilos próprios da idade, ter que lidar com uma gravidez. Justamente agora, que eu estava começando a "curtir" a vida, vêm um bebê, reclamam algumas. O pai, quase sempre, também jovem ou adolescente, não tem emprego, e muito menos condições materiais para sustentar a prole. Pronto, o que poderia ser a realização de um sonho, passa a ser um pesadelo, com todas as implicações morais e sociais possíveis. Em noventa por cento dos casos cabe à família de um dos "apressadinhos" zelar pela guarda e criação do pequeno ser que vem somar-se à população mundial. Parece estranho que com tanta informação sobre sexo e contracepção, a turma jovem ainda cometa este tipo de atropelo.

A gravidez precoce está começando a se tornar um problema de saúde pública, no sentido de que gera toda uma gama de necessidades, tanto a nível individual (dos futuros pais), quanto a nível social, o que exige do Estado toda uma infra-estrutura para atender às futuras mamães e seus rebentos, o que significa pensar em uma boa rede de hospitais e maternidades, escolas e creches, e principalmente prover o casal dos meios necessários para manter-se, o que sugere programas de emprego. Entretanto, o real distancia-se, e muito, do ideal, e o que se vê é um verdadeiro descalabro quando o assunto é gravidez precoce e suas conseqüências. A grande maioria das meninas-mães das nossas cidades abandonam os bancos escolares, trocando-os pelos bancos das feiras, numa clara relação de como a necessidade de estudar passa a ser um supérfluo diante da pobreza em que vivem essas jovens mães e suas crias. Os pais desses bebês pouco podem colaborar, em face de que, em sua maioria, são jovens desempregados, com pouca escolaridade, e sem nenhuma perspectiva de trabalho a curto prazo, salvo algumas raríssimas exceções. Um detalhe, sem ter um teto próprio, grande parte desses jovens casais passam a compartilhar da casa paterna (ou materna, se for o caso), dividindo o espaço com a família de origem.

A quem cabe a responsabilidade diante desse fenômeno de meninas que trocam as bonecas por um bebê de carne e osso, numa idade onde a imaturidade ainda toma conta de suas cabecinhas ? Afinal, onde está a tão propagada educação sexual, que presume-se deveria ser ministrada nas escolas, como um instrumento de conscientização acerca da gravidez e das doenças sexualmente transmissíveis ? O problema é que vivemos numa sociedade erotizada e erotizante, onde o discurso afetivo é suprimido em função da banalização do sexo, sem uma preocupação com as conseqüências do ato carnal. O resultado não poderia ser diferente, o exagerado aumento da gravidez, principalmente em moças de baixa idade, numa clara alusão de que o apelo do casalzinho da novela das seis, que transa sem o menor constrangimento, parece mais eficaz do que a campanha pelo uso do preservativo. Além disso, acrescente-se a essas influências o peso das pornô-danças (tchan e similares), a temática de nove em cada dez músicas, que insistem na rima ama-cama, e a liberalização desenfreada dos costumes, onde a saia e/ou o short ficam cada vez mais curtos, quase igualzinho ao salário-mínimo.

Sem falsos moralismos, podemos afirmar que, quanto mais a sociedade e os meios de comunicação insistirem em negligenciar valores como família, respeito, ética, prudência, bom senso, e outros correlacionados, teremos muitas meninas-mamães e muitas crianças sem o mínimo suficiente para viverem com dignidade, pois o fenômeno da gravidez precoce atinge muito mais as famílias de baixa renda do que as que se escondem sob muros de mansões ou paredes de luxuosos apartamentos. Quem aposta numa prática desse tipo está na verdade jogando fora o futuro de toda uma nação, e contribuindo para o aumento da prostituição (inclusive, a infanto-juvenil), dos menores de rua, da violência, das drogas, das favelas, e de todas as mazelas resultantes da pobreza e da miséria a que estão condenados milhões de brasileiros.

Por que não insistir em programas de conscientização sobre o bom exercício da sexualidade, sem aquele apelo hipócrita de "transe, mas use a camisinha", o que é um incentivo para a promiscuidade ? Por que não pensar numa proposta de educação sexual que vise formar o futuro pai, a futura mãe, dentro de um contexto denominado família, inserindo valores como a prudência, para discernir o momento mais adequado para gerar uma nova vida, e o respeito pelo corpo, sem esse modismo que transforma o corpo numa mercadoria de consumo imediato e passageiro ? Alguma coisa está errada nesse assunto de gravidez precoce, e cabe a nós reparar estes erros, antes que tenhamos uma sociedade inchada, conturbada, mergulhada num caos, onde o medo e a violência sejam a ordem do dia.

A liberdade sem responsabilidade com a qual muitos, em suma a grande maioria, tratam a sexualidade tem resultado num sem número de mães imaturas e despreparadas, isso sem contar com os pais, igualmente rudes quando o assunto é criança, ou melhor recém-nascido. O assunto merece de uma discussão maior por parte da sociedade, pois não adianta apenas ensinar a como se evitar uma gravidez (qualquer método contraceptivo possuem falhas), é preciso ir mais além e buscar novos caminhos, conceitos, perspectivas para o exercício de uma sexualidade mais amadurecida, responsável, capaz de identificar a pessoa, a forma, e o momento certo para darem oportunidade a uma nova vida que surge. Não existem modelos prontos quanto a isso, trata-se de uma escolha muito pessoal, mas sem dúvida é uma decisão que pode, e muito, transformar radicalmente a vida de qualquer pessoa. Portanto, parar para pensar antes de levar adiante uma relação sexual, ainda parece ser uma boa idéia.

* O autor é historiador, professor, escritor; membro da Academia de Letras e Artes da Cidade do Paulista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário